breves prosas poéticas

Eles eram o labirinto, e eram o Minotauro, e eram o fio de Ariadne

05/07/2021

Ele comemorava seu aniversário com uma festinha no Mc Donald’s. Ela estava deitada de bruço fazendo desenhos em folhas enormes que, só muito tempo depois veio a saber, eram de uma impressora matricial.
Era quinta à tarde, ela conversava com suas primas e usava um boné rosa com um logo amarelo. Ele dormia depois do colégio um sono sem sonho.
Ela colou aparelho nos dentes. Ele perdeu sua primeira máquina fotográfica.
Era ano de Olimpíadas, ele trocou de canal até parar na transmissão de uma partida Argentina x Nigéria.
Ela nunca aprendeu a andar de bicicleta. Mesmo com o sinal fechado para os pedestres, ele atravessou a rua como se estivesse na sala de casa. Ela chegou à pagina 56 do livro que não entendia direito.
Ele queria que a aula acabasse rápido. Ela passou a gostar de estudar na época da faculdade.
Eram 15 para as cinco e ele estacionou o carro sem precisar fazer muita força. Ela tomou um antialérgico.
Era Natal, ela não sabia se passaria a data com o pai ou com a mãe. O pai dele já tinha morrido.
Ela mudou de cidade. Ele descobriu que não existe sono sem sonho.
Era manhã, ele estacionou de uma vez só, sem ter que refazer a baliza. Ela saiu do metrô, era a época antes da peste, quando a gente ainda andava de metrô.
Parece que estavam num labirinto, mas na verdade eles eram o labirinto, Teseu, Ariadne, o fio e o Minotauro.
Ele entrou na sala, ouvindo the xx. Ela abaixou o telefone e viu que ele usava fones de ouvido.

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Sabrina Abreu